A.˙.G.˙.D.˙.G.˙.A.˙.D.˙.U.˙.

M.˙.I.˙.C.˙.T.˙.M.˙.R.˙.

28 de jan. de 2009

Produtor aposta no mel para desenvolver o sertão

[Experiência Rural]

A paisagem é bastante desoladora, sua temperatura chega a atingir 38 graus durante o período de estiagem cuja sensação de calor causa devaneios àquelas pessoas desacostumadas com o clima; a terra árida inviabiliza o plantio de culturas que trazem perspectivas comerciais e de subsistência ao homem do campo; os campos secos traduzem a imponência do sol que esturrica toda a sua vegetação ao máximo; a criação do gado torna-se difícil por causa da falta d`água constante, sendo necessária a ajuda de carros-pipas para que se possa amenizar a sede não só dos animais, como também do próprio homem, que olha para o céu e espera dos deuses uma providência divina na expectativa de fazer cair em abundância aquela tão esperada chuva; a figura do sertanejo, homem de expressão forte, olhar marcante, lutador por natureza, trás consigo traços do dia a dia sofrido na luta entre a sobrevivência e a iminência da morte, o que não o deixa, entretanto, de se preocupar com a vida de seus animais por uma questão que o dignifica e o torna um herói, sua humanidade. Assim é o cenário do sertão sergipano durante os meses de estiagem que castigam toda aquela região.

Diante desse quadro, onde a esperança pode parecer a primeira que morre, o sertanejo surge do pó da terra seca e faz valer a máxima de que “o sertanejo antes de tudo é um forte”, frase sabiamente escrita por Euclides da Cunha, em seu clássico da literatura brasileira, Os Sertões.

Seu Luiz Gonzaga, produtor rural da comunidade Boa Vista, no município de Monte Alegre de Sergipe, traduz esse conjunto aparentemente inviável e, na sua sublime humildade, apresenta-se como um observador da natureza e tira dela as perspectivas necessárias que o permite sonhar em “fazer do sertão um horto florestal”, como costuma dizer.

Viúvo e pai de dois filhos, seu Gonzaga veio do interior de Minas Gerais há quase três anos onde trabalhava como técnico em mecânica. Foi trazido por seu irmão, um ex-funcionário do Banco do Nordeste de Monte Alegre, e apostou na força da apicultura sergipana o que, desde então, vem tocando sua vida na tentativa de adequar essa cultura às características do sertão. “Eu não entendia nada de apicultura, após fazer um curso sobre o assunto meus horizontes se abriram, aí eu levei a proposta aos técnicos da Emdagro (Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe) que de prontidão resolveram me ajudar a transformar a cara do sertão”, relata seu Luiz Gonzaga.

“Hoje nós estamos tentando reflorestar a minha propriedade rural com plantas características da caatinga, e isso vai me ajudar muito porque elas servirão para a prática da apicultura”, diz o produtor, acrescentando que plantas como angico, umbuzeiro, jurema, aroeira, caju, gliricídia, entre outras, são altamente melíferas e que vão justamente florar no período da seca.

Assim como a jurema, que fluorou no mês de dezembro, as catingueiras estão começando seu ciclo de floração agora, em janeiro, o que significa dizer que, seu Gonzaga, ao invés de alimentar as abelhas artificialmente, as alimentas pelo o que tem plantando e garante que sua produção tem sido satisfatória. “Durante um ano, as abelhas produzem 180 kg de mel em duas fileiras e o meu único custo é alimentá-las com aquilo que eu planto. No sertão não adianta plantar um pé de maçã sem ter água, eu sou apicultor e o que eu preciso são flores. Estou muito satisfeito”, enfatiza Gonzaga.

“Eu iniciei, há dois anos, com apenas 10 caixas de “melgueiras” (local onde as abelhas depositam os polens) e, hoje, possuo um total de 28 dessas caixas que garantem uma renda anual de pouco mais de 4 mil reais, o suficiente para a minha sobrevivência”, afirma ele.

Segundo o técnico da Emdagro, Márcio Conceição de Santana, a empresa propôs que fosse desenvolvido um outro projeto no local. “Nós queríamos que ele (seu Gonzaga) cedesse um hectare de sua terra para que a gente pudesse desenvolver o programa de banco de sementes, mas, diante de sua proposta em trabalhar com a apicultura e, com isso, reflorestar toda a sua área, nós optamos por apoiá-lo”, diz Márcio.

“Agora, nós queremos ampliar o projeto da apicultura na comunidade porque entendemos ser viável, além de possibilitar uma renda extra para aqueles produtores com a produção de mel”, afirma o técnico, acrescentando que o gado e as abelhas podem viver harmonicamente sem que haja prejuízo de uma ou de outra produtividade, além de reparar os danos causados ao meio ambiente cultivando plantas características do sertão, tornando a região num verdadeiro horto florestal como sonha seu Luiz Gonzaga.

Nenhum comentário:

Entre em Contato

______________________________________________ carlosmariz@hotmail.com jor.carlosmariz@gmail.com