A.˙.G.˙.D.˙.G.˙.A.˙.D.˙.U.˙.

M.˙.I.˙.C.˙.T.˙.M.˙.R.˙.

11 de out. de 2007

A vida como moeda de troca

[Artigo]
Essa semana assisti a um filme do cineasta grego Constantin Costa-Gravas, cujo título é “O Corte”. Este filme busca retratar a realidade de um desempregado que, no auge do desespero, resolve tomar medidas drásticas para conseguir voltar ao mercado de trabalho. O ponto é que, mesmo sendo uma obra de ficção, o cerne ao qual o auto nos obriga refletir está muito presente no cotidiano das pessoas, em que surge a questão: até onde pode chegar uma pessoa para conseguir um emprego?

Narrativamente e, como dizia o grande filósofo, a arte imita vida, necessariamente em se tratando do filme O Corte, do cineasta grego radicado na França Constantin Costa-Gavras, seu enredo nos remete a real e implacável situação vivida por milhares e milhares de pessoas pelo mundo afora, qual seja, o fantasma do desemprego.

Ocorre que, na ficção, o autor foi mais além quando abordou a iminente loucura de um profissional que, de uma hora pra outra, teve sua vida transformada quando da sua demissão do cargo o qual trabalhava há praticamente 15 anos. Ou seja, o protagonista é um profissional que se vê, nos dias de hoje, vítima do desemprego e que tal situação afeta diretamente seus padrões psíquico e econômico a ponto de o mesmo, num ato desesperador, enveredar pelo submundo do crime e passar a assassinar seus próprios concorrentes, como um último suspiro de obter um novo emprego.

O plano se dá quando o personagem Bruno Davert, vivido pelo ator José Garcia, após dois anos de incessantes envios de vários currículos seus as mais variadas empresas sem, contudo, obter algum retorno, utiliza-se de meios para selecionar os seus “possíveis” concorrentes através de anúncios de emprego. Acontece que, tais concorrentes, sequer sabiam que estariam sendo atraídos para morte.

Tendo como único recurso eliminar seus concorrentes do mercado de trabalho, Bruno Davert coloca seu plano em prática e passa a assassinar uma por uma de suas vítimas.

Na vida real, podemos nos deparar com situações que podem sim chegar a tal extremo. Por exemplo, qual a diferença entre um desempregado que, no auge do desespero, resolve tirar sua própria vida, e de um outro que, nas mesmas condições, resolve tirar a vida de seus concorrentes ou de outras pessoas? Não seria aí a vida, tanto de um como dos outros, o bem mais precioso do ser humano?

Claro que sim. A vida vale muito mais do que qualquer outra coisa. Mas, o que acontece é que num mundo tão competitivo como o que estamos vivendo, os valores tornam-se figuras meramente decorativas na instante dos conceitos morais dos homens.

Ao nos depararmos com tal situação e vivenciarmos a escassez dos recursos básicos para a nossa subsistência e de toda a família, onde os filhos por não compreenderem a verdadeira realidade passam a nos cobrar cada vez mais pelos alimentos pretendidos; quando nossas esposas, mulheres firmes e de fibras, mesmo reconhecendo tal situação, ainda assim, por um singelo gesto no olhar cobra-nos por uma atitude urgente; quando procuramos forças para darmos a volta e não a encontramos em nenhum lugar dentro de nós mesmos; quando tudo aparentemente está perdido, não vemos nenhum outro meio senão apelar para a lei da selva, onde os fracos são devorados pelos mais fortes e, estes sobrevivem até que outros mais fortes os devorem também.

Será que os fins justificariam os meios, como apregoou Maquiavel em seu livro O Príncipe? Nesse contexto, volver-se-ia o homem ao seu estado mais primitivo para garantir seu espaço no mercado de trabalho e, conseqüentemente, a manutenção do seu padrão econômico, em detrimento da vida do outro.

Por outro lado, na selva do mundo corporativo, as competições tornam o homem, na maioria das vezes, sanguinário e irracional em que, vale mais quem tem do que quem realmente é. E é, por isso, que o filme O Corte traduz a verdadeira face do homem quando lhe é imposta situações aviltantes. Isso sim é a realidade apresentada através da ficção, que nos remete a uma análise profunda sobre o desemprego.

Aliás, esse espectro ronda as pessoas deixando-as instáveis, sem saber o que o amanhã pode trazer. É certo que as necessidades das pessoas precisam ser supridas, porém, nunca em detrimento da integridade de outrem.

Contudo, não basta só fazer uma análise fria do comportamento humano e sim, as variáveis desse fenômeno (desemprego) que se incidem nesses comportamentos, transformando o homem em seres primatas, inconscientes e inconseqüentes.

Nesse binômio trabalho/sobrevivência a vida jamais deverá ser uma moeda de troca.

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